A culpa é do Santiago!

Em visita a um velho amigo, desci ao seu atelier de fotografia que fica no subsolo da casa.
Logo um delicioso e inebriante aroma de café coado invadiu o local.
Não tardou e a voz gentil e delicada de sua esposa a oferecer, lá de cima, uma xícara do delicioso elixir.
Uma típica situação de
"ou dá, ou desce".
Explico: ou eu dava um tempo e tomava um café quando chegasse em casa, ou aceitava a oferta e ela desceria os degraus em caracol da escada com uma bandeja em delicado equilíbrio gravitacional.
Meu amigo sugeriu que subíssemos e aproveitássemos para comer alguma coisa.
Lá em cima, ao chegar, resolvi pedir um pouco de água para beber.
Como estavam todos ocupados preparando à mesa, perguntei onde ficavam os copos.
Apontaram uma porta de armário, e lá fui eu.
Ao abrir a portinhola, espantei-me, pois lá dentro parecia haver perto de quarenta copos idênticos, lado a lado.
Estiquei o braço, peguei um e o enchi até a metade com água fresca do pote de barro.
Ao levar à boca, novo espanto: data de validade gravada no fundo!
Pensei comigo mesmo: deve ser por isso que compram tantos, afinal a data de validade daquele que pegara já estava bem perto de expirar.
Perguntei, meio sem jeito, o porquê de tantos copos, ao que a menina, filha de meu amigo, respondeu rindo enquanto sentava à mesa posta: "A culpa é do Santiago!"
Ainda sem entender coisa alguma, sentei-me também.
Foi quando o mistério se desfez.
Um copo, idêntico aos vários que acabara de ver no armário, estava posto à mesa, repleto de um requeijão cremoso e consistente, e na tampa, o nome "Santiago".
Voltei lá outras tantas vezes, e, sempre que podia, levava um copo do tal Santiago e uma baguete quentinha para comemorarmos cada novo reencontro.
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